Luciana Marques
Em entrevista à RFI Brasil, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que a segurança nas comunicações de governo brasileiro vai mudar de patamar com o lançamento do seu primeiro satélite nesta terça-feira (21) na Guiana Francesa. Inteiramente comandado pelo Brasil e com uma chave criptográfica desenvolvida pelo país, o satélite pode evitar novos casos de espionagem, como o revelado em 2013, quando a então presidente Dilma Rousseff foi grampeada pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
De acordo com o ministro Raul Jungmann, o Brasil terá total controle operacional do satélite, a partir do 6º Comando Aéreo Regional da Aeronáutica, em Brasília, e da Estação Rádio da Marinha, no Rio de Janeiro. “Sem sombra de dúvida nós estaremos muito mais blindados do que anteriormente para a espionagem na medida em que este satélite está sobre nosso controle e terá uma criptografia desenvolvida por nós próprios. Então, a segurança nas comunicações de governo muda de patamar”, afirmou.
O satélite também vai auxiliar no controle do espaço aéreo e em operações na fronteira e no mar, já que tem alcance da América do Sul até a África do Sul, podendo se deslocar e mudar o foco, quando houver necessidade. Porém, a maior capacidade está voltada para o Brasil. “De fato, vamos alcançar todos os quadrantes nacionais, desde a Cabeça do Cachorro a Fernando de Noronha, do Oiapoque ao Chuí, mas também vamos poder ter uma área de cobertura de todo o Atlântico Sul, chegando à costa ocidental da África”, disse Jungmann.
Satélite vai ampliar banda larga
O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações será lançado entre 17h30 e 20h30 (chamada janela de lançamento, que leva em consideração condições climáticas), horário de Brasília, do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. Além do ministro da Defesa, vai participar do lançamento o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, e presidentes e CEOs de empresas envolvidas, como a Embratel e a Thales Alenia Space. O satélite será posicionado a 36 mil km de altitude da Terra.
A fase experimental começa em junho e depois de 60 dias o satélite entra em fase de operação regular, inclusive de negociação do pacote comercial. Ele terá 30% da capacidade ocupada pelas Forças Armadas, para defesa, na chamada banda X, com duração de 18 anos. E a maior parte, a chamada banda KA, será comercializada. Ela faz parte do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) e deve chegar à casa de brasileiros. O Ministério da Defesa diz que a internet chegará de forma mais rápida e eficaz em regiões longínquas do país.
Também haverá pacotes de transferência de tecnologia para empresas comerciais brasileiras que queiram adquirir tecnologia embarcada no satélite. A francesa Thales Alenia Space (TAS), empresa fornecedora do equipamento, já capacitou 51 engenheiros e técnicos brasileiros sobre o desenvolvimento do satélite e de suas funções. São especialistas de órgãos como Ministério da Defesa, Agência Espacial Brasileira (AEB), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e das empresas Visiona e Telebras.
O governo brasileiro investiu R$ 2,1 bilhões no projeto e acredita que terá retorno desse valor em cinco anos, já que não haverá mais necessidade de alugar satélites de empresas privadas e o próprio satélite brasileiro deve gerar rendimentos com aluguel. O Ministério da Defesa pretende lançar pelo menos mais dois satélites, mas ainda não há projeto nem previsão de data.